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sábado, 28 de agosto de 2010

O que não fazer... (por Aline)

Como vencer uma eleição

“Já está em andamento mais uma temporada de caça ao nosso voto. Daqui para frente irão se intensificar os anúncios no jornal, os comerciais de tevê, as faixas nas ruas. O que dirão e o que farão os candidatos para nos convencer de que eles são a melhor escolha? Vão aqui umas idéias, de graça:
1- Não beije criancinhas. A maioria delas se assusta ao ser brevemente raptada para o colo de um completo estranho. As mães gostam, é verdade. Para elas você é assim como um artista da Globo, e pode ser que votem mesmo em você por causa desse beijinho desinteressado. Mas os outros milhares de eleitores que não colocaram bebês ao seu alcance, estes sabem que você está fazendo isso só para parecer que é uma pessoa legal. Óbvio que você é uma pessoa legal, mas pode provar isso não se deixando contagiar por atitudes clichês. Desafie seus assessores e seus consultores de marketing. Avise-os: ‘este ano eu me recuso a beijar criancinhas. ’. Beije outra coisa.
2- Você vai querer prometer que vai acabar com o desemprego e com a violência. Pense bem, criatura. Você prometeu semana passada ir jantar na casa do seu irmão e ele está esperando até agora. Também é uma idéia esgotada. Não prometa saneamento básico para todas as vilas, não prometa cinqüenta mil novas vagas no mercado de trabalho, não prometa triplicar o numero de viaturas da Brigada, não prometa céu estrelado no próximo reveillon. Diga que você vai fazer o possível, o que estiver ao seu alcance. Seja modesto. Tenha humildade. Finque os pés no chão. O povo vai cair para trás, eles nunca viram isso.
3- Você vai ter um jingle, fatalmente. Outra oportunidade de ouro para se diferenciar: encomende uma bossa nova. Ou um blues. Esqueça aquela gritaria, aquelas letras sem novidade, aquela síndrome de cãozinho do lacre azul. Sofistique-se. Faça uma coisa meio Lenine, meio Chico Buarque. Quem sabe uma musica cantada pela Adriana Calcanhoto? Não custa convidá-la, milagres acontecem.
4- Carreata. É de dar pena, domingão de sol e você de pé na traseira de uma caminhonete abanando e sorrindo pra gente que nunca viu antes. Não diga que acha divertido. Ninguém no seu juízo normal acharia. Então entre no seu próprio carro, ligue o ar-condicionado e dê uma banda pela cidade, sem muito alarde. Quando passar por um pequeno grupo, dê uma buzinadinha de leve, pisque o olho. Apareça discretamente, sem forçar. Você não é a rainha da festa da uva. Poupe-se, economize energia: vá que você seja eleito.

Julho de 2000”
MEDEIROS, Marta. Non-Stop.Porto Alegre: Editora L&PM, 2009.Pag.102.

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