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domingo, 19 de junho de 2011

Crepúsculo dos Deuses (por An Persa)*

Neste poste, divido com vocês minhas anotações da aula sobre o filme "Crepúsculo dos Deuses" do primeiro módulo (O Perspectivismo) do curso de História da Filosofia em + 40 filmes, para abrir o poste, selecionei o Trailer do filme, não é o oficial e infelizmente não tem legenda, mas resolvi postar mesmo assim porque achei este mais completo, porque oferece algumas informações sobre os atores. Para quem já assistiu ao filme ou pretende assistir fica fácil entender.

Aproveito ainda, para passar o link para fazer o download do filme:




Billy Wilder (1906-2002)

Polonês e Judeu, foi para a Alemanha para viver de cinema, mas teve de fugir para Hollywood na segunda guerra, quando perde seus pais em Auschwitz. Torna-se o principal nome do cinema hollywoodiano de seu tempo.

Filmografia:

Farrapo humano (1945)
O pecado mora ao lado (1955)
Quanto mais quente melhor (1959)
Beija-me idiota (1964)
Amigos amigos, negócios a parte (1981)
 
O filme: Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard - 1950)
Sombrio e cômio, marcado por diálogos ágeis e cínicos, construindo um retrato específico do fracasso e dos projetos que somos: Heidegger e Sartre - a vida é um projetar-se, a doação de sentido é como um tijolo mas a construção é passível de ruína. Vemos no filme uma mansão em ruínas, Norma, a dona da casa tem seus projetos em ruínas, por isso sempre está a beira do suicídio, despencando do que pensa ser.
O filme nos conta uma historia a partir de um ponto de vista privilegiado. Gilles, o narrador personagem, nos apresenta a sua versão dos fatos, e os personagens todos são versões de como ele percebe os outros. Os personagens estão em função de um mesmo.

O filme pode ser dividido em três perspectivas

I. Perspectiva de Wilder:

O diretor afirma que com este filme ele quis “retratar a vida em Hollywood”. Wilder não atribui adjetivos ao retrato que apresenta, apenas mostra os efeitos desse ambiente nas pessoas. Outra frase do diretor nos dá a dimensão do que ele quis mostrar:  “em Hollywood os sonhos se realizavam ou morriam”.
Sonhos são projetos e a morte deste é a morte do homem, portanto, nada melhor que um morto como narrador. A pergunta do filme é: “até que ponto estamos dispostos a chegar?”

Entrelaço ficção e realidade – a realidade (do / no) filme:

O filme retrata a decadência da Hollywood do tempo do diretor. Foram usadas locações reais, que de fato possuíam a áurea do filme:

O casarão que vemos possuía intimamente o contexto do filme, inclusive a dona verdadeira do casarão era como a dona da casa no filme. Os estúdios que são apresentados eram de fato estúdios da Paramount, e De Mille, que representa a si mesmo como o maior diretor da época, realmente estava filmando Sansão e Dalila (um filme dentro do filme). 

Gilles, quem nos narra suas memórias póstumas, seria uma versão de Wilder fracassado, que se une aos restos de sonhos (Norma) em nome da sua ganância. Wilder foi Giles até certo ponto, o diretor vingou mas seu personagem não. Na Alemanha, Wilder era um jovem querendo fazer seus filmes, impossibilitado, ele saia com velhas ricas para manter certa posição.

William Holden que interpretou Gilles: era um ator de filmes menores, mas chega a ganhar notoriedade a partir desse filme, onde, de certo modo, interpretava a si mesmo.
Gloria Swanson que interpretou Norma: tal como no filme, foi uma grande estrela do cinema mudo, e assim como muitas, perdeu espaço na era do cinema falado, por conta das performances carregadas. Entretanto a atriz não estava no ostracismo, era ativa, fazia programas de rádio.

Stroheim que interpretou o mordomo Max: foi de fato um gênio que nunca se realizou por completo, fez historia no cinema com clássicos como "Coração da humanidade (1918)""Agrande ilusão (37)"

Assim como no filme, o Stroheim, como diretor, fez de Swanson uma estrela do cinema mudo, dirigindo-a em filmes memoraveis, inclusive, quando a personagem Norma assiste a um de seus filmes com Gilles, a cena que vemos é do filme “Minha Rainha” dirigido por Stroheim, o fracasso que sepultou Swanson, depois deste filme diretor e atriz, que eram casados (assim como no filme de wilder) só voltaram a se falar para fazer Crepúsculo dos Deuses, redendeu a ela uma indicação ao oscar de melhor atriz em 1951. 
 
Hedda Hopper: de fato uma fofoqueira social, por isso dá a noticia da morte de Gilles no fim do filme

Bonecos de cera: tem uma intenção ambígua, pode soar como homenagem ou cínico, uma ode, ou ódio, mas de todo modo mostra a marginalização do cinema mudo.
1.Keaton: diretor que fez em “O homem das novidades” o mesmo que Wilder em Sunset Boulevard, acaba com sua produtora 30 anos antes de Wilder acabar com a Paramount.
2.Chaplin: também está presente no filme como uma estrela esquecida .
3.Anna Nilsson: é uma pré Greta Garbo
4.Warner: fez o filme “Rei dos reis”, onde foi o personagem principal e só, mostra o stigma de personagens grandiosos de mais.

Vemos que o filme conta com a participação de grandes ícones do cinema, o que nos faz perguntar como estes puderam aceitar representar nesse filme, o mais ácido filme hollywoodiano sobre Hollywood.
 
II. Perspectiva do personagem narrador:

Walter Benjamim proclama a morte do narrador. Em uma leitura histórica, a morte abre novas narrativas e acaba com outras, pois, a oniciência é uma propriedade divina e por isso não existe, deste modo, a morte do “narrador” está vinculada a própria morte de Deus, qualquer outro narrador é parcial, e por isso, não pode dar a versão completa.
No filme há um narrador oniciente, mas que sabemos ser parcial, acirrando a falta de convivência entre as pessoas, nossas relações com os outros são relações virtuais, porque nos relacionamos com a versão que fazemos do outro.

A cena de abertura é uma provocação para a versão em retrospectiva, junta pontas e monta figuras tentando fechar a trama em um circulo, e para isso, manipula. Vemos o narrador em um circulo hermenêutico (revisionismo) sobre si, busca a compreensão de si; a valorização das experiencias (a comunicação na obra de arte).

Gilles narra os fatos em primeira mão, antes dos jornais (outras versões), conta o que se vê, e o que não se vê, a revelação de si entre o narrado e o omitido. Difere personagens e narrador mostrando-se perigoso e malandro que lança o anzol para fisgar Norma. No fim, vemos que a lógica se inverte, vemos norma enterrar seu animal de estimação (um chimpanzé) quando Gilles chega, seria ele o novo macaco, mas o dado nos escapa, porque o narrador nos manipula.

Quem pretende estrelar Salomé, é Norma, e é ela quem beija o morto, Gilles vira um marionete, e assim como ele a realidade está afogada no jogo das perspectivas, passa de macaco a vira lata sem passado (na fala de Max ao telefone). Gilles começa a falar de si na terceira pessoa, não sabe quem é. A personagem Betty é como a vida com quem ele sempre flerta mas não casa, abre mão do amor para ser gigolô, possui um desprezo por si mesmo, e Desprezo é um tema recorrente na linguagem de Wilder.
 
III. Visão de Norma (fora da realidade)

Norma é uma hipérbole com lente de aumento, vive em uma redoma de ilusão (Heidegger – ser no mundo e ser com). O personagem Max tenta manter o minimo de organização no mundo de Norma. Gilles morre por querer destruir a redoma/mundo de Norma, na ótica de Gilles ele a está salvando.

Max está tão comprometido com Norma, que ela passa a ser seu mundo, ela é seu projeto (Max fez de Norma uma estrela, manter a luz da estrala é seu projeto). A mansão é lunática, como a dona, exagerada. Em seu onírico retorno, Norma age como se estivesse em um filme, vive como quem contracena, defende o cinema mudo, assume falar com os olhos, que o cinema é mais cinema sem a voz.

Interesse e desejo: Niet e Freud – todos enxergam o que ela não vê, que o seu tempo já passou, mas Norma cria sentidos para se proteger, como o último a saber, não sabe porque não quer ver. Na cena em que Betty descobre o segredo Gilles, vemos que ela também escolhe o que quer ver, mas Gilles se remoeu, acreditando que ela precisava ver.

Sempre o último a saber, porque? Porque não quer saber, mostrando que serve pra todos e não somente para os loucos. A doutrina do ponto de vista (Ortega y Gasset) – o ângulo é a lei, não podemos subtrair o olhar. O crime de Gilles foi quebrar a redoma de Norma, ela não duvida do seu ponto de vista, se assim fosse morreria, ela mata Gilles para não morrer.

Nas cenas finais as câmeras dos jornais, aumentam o delírio de Norma, neste momento Max vira De Mille e de algum modo Norma se realiza. Hedda Hopper e o exercito sem coração vêm a noticia espetáculo mais importante do que a pericia médica.



“Ei la sobre as câmeras, a vida foi estranhamente piedosa com Norma. O sonho com o qual se agarra acabou por envolve-la”

Close up final, Norma fora de foco, sombria e assombrosa.
E como comentário pessoal, a atuação de uma estrela muda, que fala maravilhosamente!

*Anotações de aula; Alexandre Costa; Historia da filosofia em + 40 filmes


Peço desculpas pelo tamanho do poste, mas realmente é difícil resumir quando tudo o que se vê parece importante e interessante, ficarei feliz em receber comentários de quem tenha visto o filme e lido minhas anotações.
Seguindo o contexto do modulo Perspectivismo, nada neste poste foi retirado de minhas opiniões pessoais, tudo foi anotado durante a palestra. Caso haja alguma batatada de minha parte, nada mais é do que o efeito do meu modo de ler o mundo, intrinsecamente às minhas anotações, está a minha perspectiva disso tudo. 

Um comentário:

  1. Phyllis disse:

    "Toda vez que vou para Los Angeles, que não é, muitas vezes, eu olho para essas palmeiras estupefação, uma vez fachadas de estuque inteligente e saber se uma Norma Desmond de uma época mais tarde, pôde esconder do mundo dentro delas, sustentada por cabo TV (AMC ou TCM, sem dúvida), um poodle chamado FiFi ou Sir Francis, armários cheios de estampa de leopardo-calças Capri, que não se encaixam nas últimas décadas, e um armário de bebidas do mundo da classe que tem visto os chefes de Estado no âmbito do tabela em uma boa noite. É por causa de Sunset Blvd., Por certo, que minha mente nunca poderia ir lá. É um dos filmes mais indelével que você nunca vai ver.

    Este filme é excelente por várias razões, não menos do que é porque ele é o primeiro olhar de Hollywood de volta em si mesmo. No meio deste filme, o silêncio era apenas 22 anos atrás de nós. As pessoas deixadas para trás pela pressa de som pode ainda palpável TASTE a fama, a honra, que o passado particular, não sendo tão fraca e distante. A tristeza de suas vidas era real, e nesse ponto da história, uma ll ao redor, se oculta. Muito mais foi feito a suposta selvageria "deste filme vis a vis a estrela desbotada do que eu acho que existe agora, ou nunca o fez. Os cínicos Wilder é muitas vezes profundamente em contato com o trágico aqui, assim como o grotesco."

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