Marcadores

terça-feira, 22 de março de 2011

Godard e a Ficção como documento: parte I (por An Persa)

Em uma das diversas mostras de cinema realizadas pelo caixa cultural do Rio de Janeiro, pude assistir ao brilhante História(s) do Cinema, do Godard, uma das muitas obras primas do diretor, depois de muito procurar finalmente encontrei o filme para baixar e finalmente pude assisti-lo com a devida atenção que todo filme Godariano requer.

Nele, o diretor realiza aos baldes, coisa que costuma fazer nos seus filmes, citações. Godard captura cenas de filmes, imagens de obras de arte, frases e poesias, e reorganiza os trechos com a seu critério, ou seja, em uma ordem aparentemente subjetiva.

As citações comuns aos filmes do Godard, nos levam a uma reflexão a partir da transformação do “arquivo histórico” em personagem. Neste filme, assim como em Zelig do Woody Allen essa transformação é potencializada, cada obra com fins diferentes, mas que nos levam a mesma análise. A manutenção da vitalidade do arquivo, transformando-o em personagem, assim como o movimento de transformação do personagem propriamente dito em arquivo.

Em outras palavras, falamos da questão que é imediatamente levantada quando assistimos ao precioso curta “O inspetor” do brasileiro Arthur Omar: as fronteiras entre a ficção e documentário.


A teoria de que o indivíduo não consegue ser ele mesmo diante da observação do outro, tornaria a idéia de documentário algo impuro, uma vez que o olhar se transforma em câmeras e equipes. Essa idéia se vulgarizou muito rapidamente com os reality shows.

Se pegarmos como documento o registro de um fato sem uma interpretação, a teoria faz sentido. Analisando, porém, a visão do diretor como uma interpretação de um roteiro, a questão perde o foco. Woody Allen fez isso brilhantemente por duas vezes, em Take de Money and run de 1969 e em Zelig de 1983. Em ambos os filmes Allen explora a flexibilização do espaço narrativo e documental chegando próximo ao documentário-comédia. Michael Moore também caminhou nesse campo em Fahrenheit 9/11.

O interessante é que essa fronteira pré-determinada pode ser rompida tanto de um lado quanto de outro, e a ficção absoluta pode ser pega como uma verdadeira obra documental.
 
 
Para baixar:
 
Infelismente só tenho um dos filmes citados, mas vale muito a pena!
 
Take de Money and run:
 
 
 

6 comentários:

  1. Informações adicionais...

    Zelig é um dos filmes da minha vida, faz uso de imagens de arquivo e oferece a elas novas possibilidades de realidades, sugerindo credibilidade em um documentário que de fato é ficção. Woody Allen algumas vezes trabalha imagens de arquivo e coloca os personagens em cenas que nunca aconteceram ou em ambientes que já sofreram a ação do tempo.

    O inspetor, de fato é um documentário, mas a história é tão fantástica que parece ficção. A grande sacada vem com a abordagem da historia, que ultrapassa as simplórias entrevistas tão comuns nos curtas documentais, e mostra o inspetor em ação além de usar cenas de arquivo.

    Take the money and run, não usa de fato cenas de arquivo, estas são forjadas deixando tudo ainda mais engraçado

    ResponderExcluir
  2. bom, Zelig não chega a ser o meu favorito, mas achei muito foda, no entando gostei bem mais do "um assaltante bem trapalhão" ou take the money and run...

    esse ultimo é muito engraçado, e de uma certa forma nos faz pensar se é ficção ou realidade, não sei, lembro de ter ficado na duvida se era uma historia real e naturalmente engraça e que foi contada em moldes de documentário.

    se não me engano esse é o primeiro filme do Woody allen. SEmpre quis rever, e agora chegou a hora!

    ResponderExcluir
  3. No caso do filme que vc citou "o inspetor" nunca vi, e é uma pena não ter o link pra baixar aki :(

    também não conheço o trabalho do Artur Omar, mas vou procurar na internet! Vcs falam de uma forma que nos faz querer ver qual é!

    ResponderExcluir
  4. Olha Nilson, na verdade não sei como escolher entre Zelig e o Take de money and run, simplesmente adoro os dois... mas o zelig eu vi era pequena e de fato acreditei na historia, e isso me marcou, o outro, putz! muito engraçado e brilhante!

    gosto tanto desse tema que se vc for ver em temas anteriores já falei sobre isso várias vezes e citei e babei o ovo desses dois filmes

    ResponderExcluir
  5. Já citei o filme do Omar em outros textos também... eu assistir vários dos filmes dele em 2009 no festival de curtas do RJ.

    Na época ele tava lá no odeon e falou com o publico, disse quem nem mesmo ele tinha muito acesso aos filmes que no momento estão sobre a guarda do MAM do rio, se não me engano.

    Ai ele criticou a politica de preservação dos filmes e tal, tocou em uma questão bacana pra gente aki do blog, porque somos formadas em museologia... mas falar sobre isso seria um novo post.

    o fato é que o filme é muito foda! e se um dia vc tiver a oportunidade de assistir aos trabalhos do Omar, vai se surpreender!

    ResponderExcluir
  6. é certo que vou ficar atento pra ver os trabalhos do Omar...

    Alias, vc poderia fazer um post sobre isso então.

    ResponderExcluir