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terça-feira, 27 de agosto de 2013

orange juice? mechanics orange! (por: An Persa)

Laranja Mecânica





Mesmo com toda apologia á violência, esse filme é um dos meus favoritos. Mais uma vez recorro ao mestre Godard, que disse, “a arte pode transfigurar a vida mas não pode criá-lá”. Está, então, justificado o conteúdo aparentemente violento do filme, que não deve ser visto com olhar moralista... É um filme provocativo, e como boa obra de arte, trabalha com o inesperado. A questão arte e sociedade deve ser considerada, claro, mas não com olhar superficialmente focado no cru, porque este filme é um biscouto fino!
Gosto de pensá-lo como uma reflexão das vanguardas da arte e, porque não, da política! Toda a tentativa de levar a arte ao cotidiano sofre resistências de todos os lados... essas buscas utópicas por transformações culturais e sociais através da arte, estão intimamente ligados a violência. A cada vez que chegamos aos limites das experiencias artísticas, seja qual for a natureza, estamos trabalhando também nos limites da violência...
Os modelos são inúmeros... Martin luther King e Jesus Cristo ou Malcom X e Moisés. O olho por olho, a arma na mão, a diplomacia e o amor, tudo é violento. O livro e o filme são violentos porque percorrem as artes e a política, e desse modo, não poderia fazê-lo de outro modo que não fosse externando o caos pessoal dos personagens, que controlam e são controlados.
No último capitulo do livro no qual o filme se baseia, há uma reconciliação entre Alex e a sociedade contra qual ele se revoltou... o filme, não mostra isso, o homem é convertido à técnica e já não tem poder de escolha. É justamente contra essa condição robótica, que Alex se revolta. Ele quer defender o homem do processo violento de civilização e ao mesmo tempo, é a personificação da arte.

O filme é dividido em três atos, no primeiro Alex (como Deus da arte) passeia por entre as artes: teatro, dança, música, artes plásticas... e ao fazê-lo os transforma violentamente, através da própria vida, porque vive uma eterna performance. Alex controla, ele dita, por isso espanca um velho logo na primeira cena, é seu aviso de que pretende romper com as tradições. A última cena do primeiro ato, é a morte de uma colecionadora de arte, que reafirma a vontade de transgredir de Alex que possuía o controle de si e fazia outros reféns...
No segundo ato, Alex é pego pela sociedade de controle para controlar seus atos de violência, para isso ele é violentado.
O último ato Alex está sem controle de si, anda agora controlado, mas percebe que não poderá viver sem violência em uma sociedade violenta.

jus d'orange?

(mécanique)


Primeiro:
Nos colocando no lugar (palco) de Alex, vemos que o personagem em si não é violento de modo cru, ele age com violência performática, sua violência é a arte do seu tempo. Por isso ele espanca o velho, ele espanca a tradição, o atraso social.
Na cena do estupro no teatro, Alex interrompe o estupro como um diretor faria, e a cena mostra o ato como uma dança desconexa. Ele não diz que estuprar é errado, e sim que estuprar com roupas e emblemas nazistas é cafona. A forma como o estupro foi feito é que foi mais “estuprante”... A dança aparece mais uma vez, na briga de Alex e Billy Boy, dança contemporânea.
Ao desconstruir a música “cantando na chuva” Alex mostra o que é “amor” em sua fisicalidade (ainda que isso parece subjetivo, mas vamos viajar na idéia...), e a dança e o teatro se unem, como num musical.
A música “Ode a Alegria” é uma constante... ressaltando o sentido filosófico de arte perfeita. Esse olhar filosófico sobre a “sacralidade” da música é sublinhado por Alex durante a cena da saideira na leiteria, quando uma mulher canta Ode a Alegria e um dos seus parceiros faz piadas, Alex fica irritado porque compreende o sentindo intimo de obra de arte que é capaz de transformar.
Os amigos de Alex, não o compreendem. Um exemplo é a cena em que Alex dá uma paulada em um dos seus amigos, Alex quer performance, não quer tirar proveito algum, quer ter o prazer que um criador tem em criar.
No contexto do filme, a mulher que Alex mata com um pênis gigante, é quem possui a violência nas mãos, por ser burguesa e chamá-lo de miserável, por pretender ditar o que é arte. Como personificação da arte, Alex descarta os princípios tradicionais ao matar a personificação de um ditador de moda.

Segundo:
Alex e as instancias da lei.
1.A delegacia inglesa que tortura com lei radical
2.A prisão, que põe Alex nu e o chama por um número assim como nos campos de concentração
3.O Centro: animaliza Alex, que é domado com tratamento cinematográfico, mostrando a violência que é estar em uma sala escura, olhando para uma grande tela, ouvindo um som alto e estando limitado a uma cadeira, devendo silencio. Põe o cinema como a arte mais violenta.

Último ato:
Quando Alex toma consciência de que não é possível viver sem controle. Reencontra pessoas que se vingam, encontra os amigos (antes “criminosos”) nesse momento são policiais (mostra que não há diferença entre o crime e a lei)
Alex nos mostra que não se pode viver sem violência em um mundo violento. Temos aprova de que Alex era mesmo um artista de seu tempo, a única possibilidade de arte de vanguarda, porque vivia inteiramente a arte do seu tempo.
Quando Alex é levado ao centro, é como se uma obra de arte feita para ser manuseada, fosse entregue ao museu, encontra-se com suas funções originais subtraídas de si.
A cena final, onde ele pensa estar transando para uma platéia que o aplaude, garante mais uma vez sua condição de ser a personificação da arte, por elevar a luxúria do seu tempo ao statos de arte.

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