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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Foda-se quem poder: a vida (por Marcel de Souza¹)


Camile caminha apressada, chão molhado, sandália fina, casaco novo, limpo. Cor de rosa.
Era dezembro? Eu me lembro!
Mas fazia verão, janeiro, outono, Março.
Era tempo que não cabia no contar dos lábios  de André.
Eram todos. Dois, um pro outro.
Para um, era samba de esquina gelada. Mas com o calor da prosa doce do malandro sibilando amor em versos tristes. Para outro, era mais do que poesia.
Eram dois mas eram um.
Nem Marisa gemia aquele amor  tão aflito. Amor com gosto de saudade recém renovada. Juras silenciosas assinadas por um sorriso.
Camile havia enfim ENCONTRADO. André também.
Ele dizia entre as tardes de beijos: Nossos filhos? quatro ou três? Nosso amor não precisa de um teto se o chão for feito de estrelas. Todo tempo do mundo é pouco contigo. É coisa de três vidas inteiras. Mãe dos meus filhos...
Eram falas finas, apelidos bobos mas sinceros.  Apelidos que, na distância do toque. Evocavam tamanha doçura. Ela era rio seco, chão arenoso, cavalo sem dono, sem roça. Era toda menina, perdida, mesquinha, sublime e sensível. André à fez desabrochar,  fez da menina, a mulher, fez das dúvidas apenas certezas. Trouxe o caminho e ela andou. Pelo menos assim pensou. André era triste. Coração carregado de nada, homem de lata. Se fez carne com o toque calmo,  humano e apaixonado de Camile.

Mas a maré nem sempre é calma. Há dias em que na 'pequenez' do ser, mais um não cabe: “Eu não sei” um dizia. Jovem, confuso. É preciso morrer de amor pra entender que nem sempre se sabe a hora de um começo, nem a tristeza de um fim. Mas então: A CERTEZA, o choro, palavras ditas, calmantes. Era inegável a semelhança:
“me reconhecer no teu sorriso.” “ te quero assim mesmo, eu sei, EU SEI!”
Quando não era um, era o outro. Nossa história, nosso jeito:
“Meus caminhos traçados por erros, acertos. Mas ainda assim, eram meus.”

Naquela tarde, naquele banco. No céu. No alto, apenas uma estrela como testemunha. O calafrio fino, enamorados:
 “Se o meu céu anoitecer?” “eu te ilumino!” “Mas e se eu me perder???” “Eu te encontro!”
Apenas ouviam os dois. Não havia barulho. Nem o da estrela. Que estrela não era. E nem o desgaste da mesma, na atmosfera. Olhos em riste, um no outro.  Dedos suados, entrelaçados. Alguns segundos. Uma palavra:
 “E, se EU........”

Nada mais restava. Qual seria a chance? Nem mesmo a matemática poderia prever.  A pedra fria, queimada, O CHOQUE, e nada mais restou. Nem banco, nem sombra. Nem sinal de tudo aquilo.
O sol se punha, e absolutamente nada se alterou. O som foi ouvido de longe. Pessoas correndo vieram. E nenhum vestígio, nenhuma vírgula de sonho daqueles dois. Nenhuma carta, nenhum bilhete, nem todas as coisas do mundo...
Ninguém soube.
Ninguém notou.

¹Marcel de Souza é um amigo de longa data, aos meus olhos, ele é artista, principalmente por não se ver como um. Está sempre criando. Ganha a vida como desenhista, sobretudo, de pornografia, e vende seus originais na internet.  (Ver site: MarcelTheSouza).
Marcel é ainda um dos idealizadores e colaborador do podcast de filmes pornôs caralhinhos-voadores
Escreve por inspiração e inquietação, entretanto, não sabe ao certo o que fazer com o resultado. Este conto é um dos seus produtos. Me identifiquei muito com o que li, o conto me transmite  melancolia e por fim me fez flutuar, como uma musica que para de tocar antes do acorde final

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