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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O meu não-objeto do cinema (por An Persa)


O conceito do não-objeto, ao contrário do que o nome sugere, não está se referindo a um antiobjeto ou qualquer coisa oposta aos objetos materiais. O não-objeto é de fato um objeto especial, que representa a síntese de experiencias sensoriais e mentais, e através do qual é possível vivenciar tais experiencias.
Nas artes plásticas o não-objeto, resumidamente, é a obra que problematiza as categorias artísticas tradicionais, desse modo, um não-objeto não pode ser classificado como pintura ou escultura, nem como um meio termo entre os dois.
Um exemplo de não objeto são os bichos da Lygia Clark, que não possuem avesso, precisam da participação do público e não se encaixam na definição de pintura ou escultura.

Bom, com na definição de não objeto em mente eu pensei em Zelig, um filme do Woody Allen que, ao meu ver, problematiza as categorias tradicionais do cinema, ou algumas delas, o que é um filme?? o que é um documentário?? o que é Zelig??

Os “caras de cinema” dizem que Zelig é um mocumentario, ou filme moc (documentário de mentira), eu digo que é somente um não objeto, isso porque vai além do moc “Um assaltante bem trapalhão”(Woody Allen). Zelig é um filme moc, mas que nos apresenta “resquícios” de realidade, WA usa imagens de arquivo pra nos convencer de alguma maneira que Zelig existiu.

Pensando em 3D, visualizo Zelig de volta as salas de cinema, agora em 3D, seria tanger o limite do não objeto cinematográfico com o ideal godariano de cinema, o cinema zero! (mas essa já é outra história)
Ps:. a trilha de Zelig também é um caso a parte!






Lembro de ter assistido a esse filme nos anos noventa, eu devia ter uns 9 anos, devia ser final de semana, porque eu estava dormindo no sofá da sala, tinha ficado vendo TV com meu pai até tarde, acordei no meio da noite com os risos dele, que estava assistindo a Zelig, eu comecei a ver meio sonolenta e entrei na onda do filme, eu realmente acreditei que o cara existia!
Lembro que perguntei ao meu pai, se poderia existir uma pessoa assim, que muda fisicamente, conforme o ambiente em que se encontra, como um camaleão.
Meu pai, claro, sabia que isso não era possível, mas ele mesmo teve dificuldade de me explicar o filme, lembro dele ter me explicado dizendo “isso é um documentário de mentira” mas lembro de ter pensado, "mas as imagens em preto e branco, as imagens antigas??"
É claro que eu era só uma criança, e acreditava em papai noel, mas até hoje penso nesse filme como um dos melhores já feitos! E sei que muito do que Zelig transmite, está além da história inusitada e da interpretação hilária do WA, e da sensível Mia Farrow... o filme transgride não só porque conta uma história usando os recursos usados pelos documentários, mas também porque usa as “sedutoras” imagens de arquivo.
Hoje, no Rio de Janeiro, acontece todo ano o RECINE, promovido pelo Arquivo Nacional, além de mostrar filmes, oferece cursos de cinema incentivando a utilização de documentos de arquivos. Nos filmes esses documentos ganham vida, ou nova vida.

Não poderia terminar sem mencionar o nome Arthur Omar, e o curta “O Inspetor”que pra mim é mais um exemplo de não objeto cinematográfico nos moldes de Zelig, com a diferença que este é de fato um documentário, mas que aos 23 anos tive a oportunidade de “pagar o mico” e perguntar ao próprio Omar (em oportunidade no Cine Odeon) se o que eu havia acabado de assistir era um moc. Eu só acredito porque Omar me falou. Sim o inspetor existiu!
PS:. Tentei encontrar alvideo relacionado ao curta, mas como eu disse, foi oportunidade única mesmo, já que segundo o próprio Arthur, nem ele pode ter acesso aos próprios filmes que estão sob custódio da cinemateca do MAM do RJ.

2 comentários:

  1. Zelig, é um dos meus favoritos do Woody allen! antes desse, só mesmo o Annie Hall!

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  2. também acho Zelig foda! mas não me atrevo a comentar mais que isso!

    as informações desse post ficaram meio estranhas na minha cabeça, não sei se sou burra, ou se estou fazenod muitas coisas ao mesmo tempo... quem sabe em outra tentativa...

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